A
história de Dores do Turvo, originalmente denominada Arraial de Nossa Senhora
das Dores do Turvo, remonta ao século XVIII com a fundação da Ermida em 1771 e
em 1773, quando Maria Lopes recebeu terras da coroa portuguesa. Motivada por
sua devoção à Nossa Senhora das Dores, em 1783, Maria Lopes doou parte dessas
terras para a construção de uma capela dedicada à Senhora das Dores. Juntamente
com Francisco Martins e outros devotos, residentes no Ribeirão de São Francisco
do Turvo, na freguesia do Mártir São Manoel do Rio da Pomba e Peixes e dos
índios Croatas, Cropós e Puris, das Minas Gerais, Maria Lopes obteve
autorização da Rainha Maria I de Portugal em 7 de julho de 1783 para erigir a
capela.
Em 23
de agosto de 1805, ocorreu um evento significativo com a criação de importantes
obras de arte sacra, possivelmente por Manoel Dias e pela oficina de esculturas
do Padre Félix Antônio Lisboa, irmão do mestre Aleijadinho. Essas obras incluem
as imagens do Calvário: Nosso Senhor dos Aflitos, Nossa Senhora das Dores,
Santa Maria Madalena e São João Evangelista, que enriqueceram o patrimônio
religioso da região. Essas esculturas são valiosos testemunhos da tradição
artística e da profunda devoção que caracterizam Dores do Turvo.
A
capela de Nossa Senhora das Dores do Turvofoi benta e inaugurada em 10 de
dezembro de 1810 pelo grande apóstolo da mata Padre Manoel de Jesus Maria,
fundador e primeiro vigário da freguesia de São Manoel do Rio da Pomba, fundada
em plena floresta virgem em 25 de dezembro de 1767.
No dia
20 de junho de 1850, a paróquia de Nossa Senhora das Dores do Turvo foi
oficialmente criada pela diocese de Mariana, sob a liderança do 7º bispo, Dom
Antônio Ferreira Viçoso, cujo processo de beatificação está em Roma. Esse ato
reconheceu formalmente a importância religiosa e a fé vibrante desta região.
No dia
20 de setembro de 1908, o padre Vicente de Cunto Pinto e os habitantes de Dores
do Turvo fizeram uma promessa à Nossa Senhora das Dores: durante as
festividades do mês de Maria em 1909, presenteariam a padroeira com um órgão de
tubos, pois queriam oferecer-lhe tão grande mimo. Unida por esse propósito, a
comunidade trabalhou arduamente para cumprir a promessa. O órgão foi adquirido
em Roma, na loja Eco do Pontificado - Gazeta do Clero, artigos do mobiliário
sacro, oleografias e imagens, localizada no Palácio Amici, via Corso Vittorio Emanuele,
nº 337, por 6 contos, 172 mil e 71 réis. Escolheram o modelo G. Mola 1906 com
10 registros e 423 tubos, fabricado em Turim, Itália. As duas caixas contendo o
órgão partiram de Gênova em 15 de fevereiro de 1909, transportadas pela empresa
de transporte geral Giov. Puppo Fu Angelo até o Rio de Janeiro. De lá, o órgão
seguiu pela Empresa Férrea Leopoldina até Ubá e, finalmente, chegou a Dores do
Turvo em carros de bois, após uma jornada longa e desafiadora. A inauguração do
órgão ocorreu com uma grande celebração em 13 de junho de 1909, reunindo
diversas autoridades civis e eclesiásticas. Deu-se então o início do mês de
Maria, e o órgão foi tocado durante todo o mês pelos filhos desta terra. O
órgão tornou-se um símbolo de devoção e união da comunidade de Dores do Turvo,
representando um marco na história religiosa e cultural da cidade.
Em 10
de março de 1938, o Padre Agostinho José de Resende tomou posse como vigário
desta paróquia. Posteriormente, ele contratou o engenheiro Rafhael Juliano para
avaliar o estado da velha igreja. Após constatar que a conservação era muito
ruim e que não valia a pena reformá-la, surgiu a ideia de construir uma nova
matriz. O projeto teve início em 1940 e culminou na inauguração da nova igreja
em 15 de setembro de 1945, abençoada por Dom Helvécio Gomes de Oliveira.
Projetada por Rafhael Juliano, a nova matriz incorporou grandes obras de arte,
como vitrais artísticos de Galliano, pinturas a óleo de José Gomes de Oliveira
(Juca Pintor), afrescos de Edson Motta e altares de mármore dos irmãos Longo.
Em 1947, os altares da igreja foram consagrados pelo Bispo auxiliar de Mariana,
Dom Daniel Tavares Baeta Neves, e foram inseridas relíquias dos santos mártires
Armando, Pio e Paulina. Foi concedida indulgência de cem dias, válida por um
ano, do mesmo modo aos que visitassem a igreja no dia do aniversário de sua
consagração, na forma costumeira da Igreja.
Em
1976, o padre Nelson Marotta, com autorização da Santa Sé concedida pelo Papa
Paulo VI através do despacho nº 586/76, organizou o primeiro Jubileu de Nossa
Senhora das Dores do Turvo, celebrado anualmente de 5 a 15 de setembro,
fortalecendo ainda mais os laços de devoção à padroeira local. Em 1992, o Papa
João Paulo II através do despacho nº 80/92 concedeu ao padre Nelson a
autorização perpétua do Jubileu para a Paroquia de Nossa Senhora das Dores em
Dores do Turvo, destacando a importância contínua da devoção à Nossa Senhora
das Dores na comunidade.
A
imagem da padroeira, venerada desde a inauguração da primeira capela, recebeu
em 2012 o tombamento pela prefeitura de Dores do Turvo através do decreto
20/2012. Em 2013, o município, por meio do Conselho Municipal do Patrimônio
Cultural, registrou o Jubileu de Nossa Senhora das Dores do Turvo como
patrimônio imaterial de Dores do Turvo na modalidade Celebrações.
Atualmente,
a igreja matriz está em processo de restauração sob a direção do pároco padre
Jorge Nato da Mata. Este esforço de preservação e renovação mantém viva a
tradição e prepara a comunidade para que futuras gerações continuem a celebrar
sua fé e devoção à Nossa Senhora das Dores.
A
história de Dores do Turvo é um testemunho da fé, arte e dedicação de seus
habitantes ao longo dos séculos. Desde sua fundação, a comunidade tem
demonstrado um profundo compromisso com a devoção religiosa e a preservação de
seu patrimônio cultural. As várias etapas de construção, doação e renovação da
igreja matriz refletem o esforço coletivo para honrar e manter viva a tradição
devocional à Nossa Senhora das Dores. Com a restauração contínua da matriz e a
celebração anual do Jubileu, Dores do Turvo não apenas preserva sua rica
história, mas também fortalece os laços comunitários e espirituais, assegurando
que futuras gerações continuem a compartilhar e celebrar essa herança inestimável.